2013/07/23

Urânio: esperança para uma química industrial mais eficiente e limpa?

Tanto se fala sobre Urânio e outros elementos radioativos apenas no contexto de energia nuclear, que por vezes esquecemos que esses materiais podem ter muitas outras aplicações – às vezes tão inesperadas quanto necessárias.

Uranium Catalysts for the Reduction and/or Chemical Coupling of Carbon Dioxide, Carbon Monoxide, and Nitrogen, artigo publicado recentemente no site Atomic Insights, descreve como processos químicos baseados em Urânio poderiam tornar mais barata e limpa a fixação de Nitrogênio, além de permitir a captura e reciclagem do Gás Carbônico e Monóxido de Carbono liberados pela queima de combustíveis fósseis.

A fixação de Nitrogênio é um processo fundamental para inúmeras áreas da indústria moderna: síntese de medicamentos, confecção de plásticos, reciclagem de metais, produção de combustível de foguetes e explosivos para mineração são apenas algumas das atividades que não seriam possíveis ou viáveis sem o seu emprego.

Mas sem dúvida a aplicação mais importante da fixação de Nitrogênio é na indústria de fertilizantes, sem a qual toda a agricultura moderna – e por consequência a sobrevivência de cerca de um terço da população atual – não seria possível. Infelizmente, a síntese de Haber-Bosch, etapa indispensável do processo, é altamente dispendiosa em termos energéticos1, além de poluente (a reação libera N2O que é um gás do efeito estufa, agride a Camada de Ozônio, e também contribui para a eutrofização de rios e lagos).

O potencial de processos químicos baseados em Urânio para permitir a fixação de Nitrogênio de forma mais econômica e menos poluente é conhecida desde o começo do Século XX. Mais recentemente, avanços foram feitos no uso de Urânio para a fixação de poluentes gerados pela queima de combustíveis fósseis, especialmente Gás Carbônico e Monóxido de Carbono. A captura desses poluentes e sua reciclagem como combustível representaria um grande passo na direção de uma indústria energética mais limpa, e processos baseados em Urânio oferecem uma rota econômica e limpa para sua implementação.

Infelizmente, o medo e ignorância sobre as propriedades do Urânio e outros elementos radioativos previnem um desenvolvimento mais amplo dessas técnicas. Isso é especialmente desanimador quando, temendo os "perigos" do uso desses elementos, indivíduos e organizações voltam-se a alternativas mais caras e poluentes – trocando riscos hipotéticos e administráveis por mortes e prejuízos reais. Resta a esperança de que, à medida em que essas perdas se mostrarem irrefutáveis, os responsáveis pela administração da nossa infraestrutura energética e industrial comecem a se pautar mais por parâmetros racionais de eficiência e segurança, e menos pelo preconceito.

Notas

  1. Esse é apenas um dos motivos porque quem defende um "retorno às raízes", a um tempo sem um setor industrial sustentado por uma ampla infraestrutura energética, na verdade está advogando o extermínio de uma grande parcela da população humana.